terça-feira, 1 de março de 2011

LUTO.

Barco de papel.

image Moacyr Scliar
Vem que tem é um papo reto, desses que mistura os dons da cura com a impureza natural das enchentes: lixo, restos de animais mortos, óleo, água na cintura e aquela impressão de que não levamos jeito para a civilidade.

Mas tudo é uma grande salada, ou melhor, uma feijoada com feijão da China na véspera de mais um carnaval. E aqui vamos nós, fantasiados de homens pós modernos, atravessando as enchentes do país rumo à quaresma, e não importa que estejamos no Piauí, São Paulo ou Porto Alegre. Caso você prefira, posso te oferecer um Líbia bombardeando civis com Kadhafi encastelado, ou uma praça egípicia, com repórter violentada sexualmente por manifestante em dia de vitória.

O olhar no papo reto é torto, uma vez que a cena encharca a retina com o que não vale a pena , mas que está posto na realidade como obra humana. Resta-nos, crianças teimosas, soltar um barco de papel na correnteza do mercado de Fátima, e deixar a correnteza levar o vazio das perdas. Em lugar do nome que identifica o barco, uma manchete segue para outra margem: Morre aos 73 anos, Moacyr Scliar. Homem navegador, escritor vencedor de quatro prêmios Jabuti, publicou mais de 80 livros, em 2009 esteve aqui, pisando as pedras do Porto das Barcas.

Texto: José Galas Filho
Portal Costa Norte

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