terça-feira, 18 de janeiro de 2011

CHUVAS NO RIO.

Cinquenta pessoas dividem casa após caminhada de 6 horas em Teresópolis

Crianças, mulheres e até grávida deixaram casas em busca de abrigo seguro.
Grupo teve de sair de condomínio por determinação da Defesa Civil.

Henrique Porto Do G1 RJ, em Teresópolis
 
50 em casa em Teresópolis
À direita, os irmãos Miriam, Simone, Mônica e Ananias, que estão dividindo a casa com dezenas de parentes e amigos que estão alojados na casa de Simone, em Teresópolis (Foto: Henrique Porto/G1)
 
As irmãs Mônica e Miriam Barbosa foram corajosas. Moradoras do bairro de Santa Rita, uma das regiões de Teresópolis mais atingidas pelas chuvas da última terça-feira (11), tiveram que deixar o condomínio onde moram por determinação da Defesa Civil. Sem alternativas, viram-se obrigadas a ir embora a pé, junto com outros familiares e moradores, numa caminhada que durou cerca de seis horas. O destino era a casa da irmã mais velha, Simone, proprietária de uma casa em Vale do Paraíso, região pouco afetada pelas chuvas no município. A tragédia na Região Serrana do Rio deixou mais de 670 mortos desde terça-feira.

Passamos por tudo de ruim que você possa imaginar. Mas não podíamos desistir"
Miriam Barbosa
“Era a única maneira de sair dali. A região está isolada. O acesso só é possível de helicóptero. Então tivemos que andar mesmo. Deixamos o condomínio por volta das 8h30 e só conseguimos pegar uma carona num dos veículos da Defesa Civil quando nos aproximamos do bairro Cruzeiro, isso quase às 15h”, explicou a doméstica Miriam, que mora no lugar há apenas quatro meses.

Chuva, lama, mau cheiro provocado pelos animais mortos e a mata fechada foram os principais obstáculos do grupo formado por crianças e pela irmã, grávida de oito meses, entre outras pessoas. Descreveu o cenário da trilha com olhos arregalados, parecendo não acreditar ainda no tamanho da proeza.

Fila indiana
“Éramos muitos. Fomos caminhando em fila indiana e, em alguns momentos, a lama chegou a bater quase na minha cintura. Além das bolsas e alimentos que tivemos de carregar, ainda precisávamos cuidar das crianças. Carreguei minha filha Vitória, de 2 anos, no colo quase o tempo inteiro. Passamos por tudo de ruim que você possa imaginar. Mas não podíamos desistir”, declarou Miriam, que nem quis comemorar o aniversário da filha, na última sexta-feira (13).

“Não tinha clima. A gente fez apenas uma oração e pediu proteção. Não só para ela, mas para todas as pessoas que estão sofrendo com essa situação”, destacou Miriam, que ainda tem mais um filho.

Mãe foi avisada em Itaocara
Agora é a irmã mais velha, a costureira Simone Regina Barbosa, de 35 anos, que tenta reorganizar a família e alguns agregados debaixo do teto da casa onde mora há cerca de sete anos.
Até a última contagem que fizemos ontem à noite, eram 50 pessoas dormindo aqui. A casa é grande, acomoda todo mundo."
 
Simone Regina Barbosa, dona da casa
 
“Até a última contagem que fizemos ontem à noite, eram 50 pessoas dormindo aqui. A casa é grande, acomoda todo mundo. Principalmente porque, durante o dia, muitos saem para trabalhar ou tomar providências com relação às próprias residências. Também temos recebido assistência e mantimentos. Tem coisas que até reencaminhamos para que sejam doadas a gente mais necessitada”, revelou Simone.

Além das três, a família ainda conta com Ananias, o irmão mais novo. Foi ele o responsável por avisar à mãe, que mora em Itaocara, município do Noroeste Fluminense, que estava tudo bem: “Ele pegou uma moto e foi correndo dar o recado. Agora ela está bem mais tranquila”, explicou Miriam.

Ela ainda não sabe quando poderá voltar para casa, mas reconhece que é preciso paciência. “É minha vontade retornar, mas de que adianta isso agora? Ainda tenho medo. Vamos esperar para que os riscos diminuam no lugar em que moramos. E que pare de chover de uma vez”.

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