domingo, 16 de janeiro de 2011

CHUVAS NO RIO.

Sítio onde Tom Jobim criou 'Águas de março' é destruído pela chuva

Amigos lembram paixão do compositor pelo lugar.
Mulher que ‘criou’ o maestro diz que despertou seu interesse pela natureza.

Aluizio Freire Do G1 RJ, em São José do Vale Rio Preto
 
Sítio de Tom Jobim
Sítio de Tom Jobim  foi destruído pelas chuvas que atingiram a região (Foto: Aluizio Freire/G1)

O canto dos passarinhos, a montanha coberta de verde, o silêncio e a conversa amistosa dos moradores de São José do Vale do Rio Preto, na Região Serrana do Rio, onde Tom Jobim costumava passar férias, serviram de inspiração para a letra “Águas de março” e tantos outros sucessos no fim dos anos 50. Mas as chuvas dos últimos dias destruíram duas casas do sítio Beira Rio, na localidade de Poço Fundo, a 40 minutos de Petrópolis, mudando o cenário do refúgio do compositor.
Em meio a tristeza, ao constatar que a casa de um de seus filhos também foi destruída pela correnteza do rio, Olívia da Silva Porfílio, 86 anos, que acompanhou a infância do garoto que andava de suspensórios e um estilingue pendurado no pescoço, relembra com emoção o respeito que o maestro passou a ter pela natureza e canta alguns versos de sua música preferida simulando tocar violão.

“Eu me sinto como se tivesse criado o Tom. Trabalhei a vida inteira para a família dele. Quando ele ainda era um menino, com 12 anos, saía para caçar passarinhos. Muito curioso, pedia para eu ajudá-lo a identificar os cantos dos pássaros, como tico-tico, saracura e trinca-ferro antes de atirar pedra com seu bodoque. A gente conversava muito e, depois, se apaixonou pela natureza e passou a respeitar a mata e os animais”, diz ela.

Olívia lembra dos visitantes ilustres ao recanto do compositor, entre eles Vinicius de Moraes e João Gilberto, que teria ficado com o carro na lama, numa das referências que Tom faz na letra de “Águas de março”.

Construção às margens do rio
A pedido de Elizabeth, filha de Tom, as casas construídas às margens do rio, inclusive a do caseiro, estavam sendo reformadas. Mas a força da água destruiu as paredes, teto e ainda levou todos os móveis da residência.
Joel no sítio de Tom Jobim
Joel diz que os estragos deixariam o compositor triste (Foto: Aluizio Freire/G1)

Para o amigo de infância, o comerciante Joel Rosa Soares, 63, não só pela casa da família, mas pelo estrago que a chuvas fizeram na região, com centenas de desabrigados, deixaria o compositor muito triste.

“Ele gostava tanto desse lugar, pela beleza natural e sossego, que adotou Poço Fundo como seu recanto preferido. Não suportaria ver esse cenário de destruição”, acredita. Fã de Tom, Joel gosta de cultivar o estilo de se vestir – inclusive o chapéu – parecido com o do compositor.

Dos bons tempos, lembra as visitas ao seu bar nos fins de semana e mostra livros e fotos com dedicatórias. Uma delas, Tom faz referências às águas de fevereiro e março.

Outro colega de infância, Tito Porfílio, 59, que também perdeu sua casa com a chuva e está com a mulher na casa de parentes, diz que chegou a trabalhar para a família de Tom.

“Ele gostava de tocar violão, deitado em uma rede, quando ficava na casa na beira do rio”, lembra. A área do sítio se estende para o morro, depois da estrada que liga São José do Rio Preto a Teresópolis.

Lugar não foi abandonado, afirma caseiro
Caseiro da propriedade há 14 anos, João Batista Henrique, 47, conhecido como Biro Biro, afirma que a família não abandonou o lugar.
“Eles estão sempre aqui, acompanh
ando tudo e sempre vêm para descansar”, conta. Paulo Jobim, filho de Tom, esteve na região logo após os estragos das chuvas. Daniel, o neto, estava com a família ali perto, quando aconteceu a tragédia, e chegou a filmar a invasão do rio. Ninguém se feriu.

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